Como a nossa religiosidade pode ter influenciado na Crise Climática.
Atualizado: 9 de out.
Como humanidade, tivemos uma ruptura entre o material e o sagrado, e estamos colhendo os frutos da visão de separatividade com a Crise Climática.
Essa separação entre espírito e matéria, que se fortaleceu com o surgimento do patriarcado e a ideia de que a morada das deusas e deuses ficava em um reino celestial, não aconteceu de uma hora para outra. Foi um processo gradual, desenvolvido ao longo dos séculos, especialmente com o crescimento das civilizações patriarcais e monoteístas na Antiguidade.
Pensadoras como Mircea Eliade (1957) e Karen Armstrong (1993) apontam que essa transformação começou com o avanço das religiões patriarcais e monoteístas no Oriente Próximo, por volta do segundo milênio a.C. Durante esse período, muitas culturas adotaram uma visão de mundo que separava o sagrado do material, deslocando a divindade para um lugar distante da Terra.
Essa mudança de percepção, que separou o espírito da matéria e deslocou a morada do divino para reinos celestiais distantes, teve um impacto profundo na maneira como nos relacionamos com a natureza, contribuindo significativamente para a crise ambiental que enfrentamos hoje. A ideia de que o mundo material é inferior é meramente um recurso a ser explorado desvalorizou a Terra, e esquecemos que tudo o que está manifestado também é sagrado.
Esse esquecimento nos afastou da reverência pela Terra como um ser vivo e divino, permitindo sua exploração sem consciência de sua intrínseca espiritualidade. E, por mais que essa seja uma discussão extensa e complexa, é importante reconhecer que essa visão tradicional está sendo questionada, inclusive pela ciência.
A física quântica já nos mostrou que o universo é inteligente, e que cada partícula contém a essência dessa inteligência universal.
Digo isso para reforçar que nosso afastamento da natureza não foi um ato deliberado, mas resultado de séculos de condicionamento por instituições de poder focadas em interesses próprios, que continuam a moldar nossa percepção até hoje.
Quando projetamos o sagrado para um lugar distante, o que fazemos aqui parece perder importância. Mas, ao enxergar o sagrado em tudo que nos cerca, torna-se natural cuidar da natureza, das pessoas, dos animais, das plantas, e de tudo que existe.
Ao aprofundarmos a percepção de que tudo manifesto é sagrado, percebemos que essa visão transcende as fronteiras da religião, cultura ou ciência, sendo uma verdade fundamental que permeia a essência da existência.
Aqui, eu te faço um convite para revisitar essa antiga sabedoria, apontando que o distanciamento entre o espiritual e o material, essa cisão que se enraizou em nossas consciências ao longo dos séculos, é uma ilusão que tem nos levado à destruição e ao sofrimento. Ao considerarmos o mundo material como algo separado do sagrado, permitimos que o abuso e a exploração se tornem normais, aceitos e até mesmo incentivados.
O termo ecologia profunda, cunhado pelo ecofilófoso norueguês Arne Naess, captura a essência dessa mudança de paradigma. Quando percebemos nossa identidade mais profunda, que não inclui apenas nós mesmos, mas também toda a teia da vida na Terra, cuidar da natureza, proteger os animais, cultivar a terra de forma regenerativa, tudo isso deixa de ser apenas uma questão ética ou moral e passa a ser uma forma de conexão profunda com o que temos de mais divino.
Essa visão resgata o sentido de pertencimento, de que não estamos separadas do mundo natural, mas somos parte dele, entrelaçados em uma teia de vida que é ao mesmo tempo material e espiritual. O espírito não reside apenas em templos ou igrejas; ele flui nas águas dos rios, brilha nas folhas das árvores, canta no vento. E, quando percebemos isso, o mundo se torna um lugar de beleza infinita, onde cada detalhe, por menor que seja, carrega em si muito amor.
A Crise Climática é uma crise dos seres separados da teia da vida. Ao nos reconectarmos, amar e cuidar da natureza passa a ser um constante processo de honrar essa inteligência universal que governa tudo ao nosso redor.
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